quarta-feira, março 14, 2007


8 de Março

Estátuas de Sal

Émile Durkhein acreditava que a queda do percentual de suicídios entre mulheres, acima de 30 anos se dava em razão delas se acostumarem aos maridos e, assim se submeteriam resignadas à vida doméstica.
Errou o velho sociólogo. Talvez nunca tenha ouvido que "os sonhos não envelhecem"... Talvez nunca tenha conhecido um tipo muito peculiar de mulher: as que possuem asas de farfalas (ou falenas). Estas teimam em não morrer, mesmo que para isso desejem a morte.
Não faço, aqui, nenhum tipo de apologia ao suicídio, muito menos de mulheres. Mas, faço sim uma denúncia: muitas mulheres estão tendo suas asas, tão cintilantes quanto invisíveis, amputadas. De um só golpe ou aos pedacinhos em rituais rotineiros de tortura.
Evoco, aqui, o sopro de Lilyth para que a delicadeza dessas mulheres do campo, das estepes, das savanas dos desertos e das cidades seja respeitada por aqueles que não compreendem e, admiradas pelos homens que já adquiriram a capacidade mágica de apreciá-la.
Para estas mulheres repito insistentemente: continuem a olhar para trás (sem medo de se tornar uma estátua de sal - mais um blefe masculino) e ofereçam muitas maçãs por aí.

Escolhi duas músicas que denunciam asas de borboletas/mulheres cruelmente arrancadas, lembrando que no mundo inteiro isso é uma prática diária.


Notícia de Jornal
Luis Reis / Haroldo Barbosa

Tentou contra a existência

Num humilde barracão.
Joana de tal, por causa de um tal João.
Depois de medicada,
Retirou-se pro seu lar.
Aí a notícia carece de exatidão,
O lar não mais existe
Ninguém volta ao que acabou
Joana é mais uma mulata triste que errou.
Errou na dose
Errou no amor
Joana errou de joão
Ninguém notou
Ninguém morou na dor que era o seu mal
A dor da gente não sai no jornal.


GOL ANULADO
João Bosco - Aldir Blanc

Quando você gritou Mengo

no segundo gol do Zico
tirei sem pensar o cinto
e bati até cansar.
Três anos vivendo juntos

e eu sempre disse contente
minha preta é uma rainha
porque não teme o batente
se garante na cozinha
e ainda é Vasco doente.
Daquele gol até hoje

o meu rádio está desligado
como se irradiasse o silêncio
de um amor terminado.
Eu aprendi que a alegria

de quem está apaixonado
é como a falsa euforia
de um gol anulado".

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